Que o Brasil desperte para a necessidade de políticas sérias quando o assunto é 'consciência negra'

20/11/2019


Por Sofia Rodrigues do Nascimento *


Sempre fui um pouco avessa as reservas de cotas ou benefícios concedidos para negros, pardos, baixa renda, índios, mulheres. Entendia que essas políticas, ainda que abrissem novas oportunidades, colocava as ditas minorias numa posição de submissão perante aos demais concorrentes. 
 
Nada como o tempo para nos fazer refletir e ver o quanto essas políticas ainda precisam avançar e são ainda necessárias no mundo moderno. Um mundo que nos assombra com a rapidez e quantidade de novidades que surgem a cada momento. Tudo novo a cada dia, máquinas, aparelhos, formas de comunicação, aplicativos, programas. 
 
Mas quando a conversa é sobre as desigualdades sociais, vemos que nem mesmo as políticas adotadas visando maior avanço foram capazes de suprir o enorme vácuo criado por uma história de racismo, desigualdade e políticas elitistas.   
 
E as pesquisas comprovam isso. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) divulgados na terça-feira, 19 de novembro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a estagnação da economia, sob o comando de Paulo Guedes, reflete no desemprego. Ao todo são 12,5 milhões de desempregados, algo equivalente a 11,8% da população brasileira, somente no terceiro trimestre de 2019, uma estatística que vem se mantendo estável em relação ao mesmo período de 2018. 
 
Mas, se a taxa de desemprego já é alta no país, atingindo seus maiores níveis, ela é ainda maior entre trabalhadores pretos e pardos (classificação usada pelo IBGE) e mulheres, segundo a Pnad Contínua. Diante da média nacional de 11,8% de desempregados, vemos que 13,9% são mulheres, 13,6% pardos e 14,9% entre os negros.
 
No recorte por cor, enquanto pretos têm taxa de 14,9% e pardos, de 13,6%, a dos que se declararam brancos cai para menos de um dígito (9,2%). No primeiro trimestre de 2012, essas taxas eram de 9,6%, 9,1% e 6,6%, respectivamente. A média nacional ficava quase quatro pontos abaixo da atual (7,9%).
 
Em 2012, a estimativa era de 7,6 milhões de desempregados, sendo quase metade (48,9%) pardos. Os pretos eram 10,2%, somando 59,1%. Os brancos representavam 40,2%. Agora, com 12,5 milhões de desempregados, os pardos são 52,9% e os pretos, 12,8%, em um total de 65,7%. Os brancos são 34,3%.
 
Se formos analisar outros campos sociais, veremos que o quadro continua negativo para os negros. 
 
Dados do IPEA, e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicados pelo Atlas da Violência 2017, mostram que a cada 100 pessoas assassinadas, 71 são negras. No último ano, houve um aumento de 22% na mortalidade de mulheres negras contrastando com a queda de 7,4% de 2005 a 2015 entre mulheres não-negras.
 
Por trás desses dados e de tantas outras pesquisas que são feitas por institutos governamentais e Organizações não Governamentais, as ONGs, estão jovens, crianças e adultos que sentem na pele as tensões de uma sociedade desigual. Entendo que a mudança deve vir da base, da educação de nossas crianças. Com escolas comprometidas com a transformação social e conscientes da importância de criarmos uma sociedade mais justa, poderemos no futuro comemorar a redução real da posição que negros e pardas, infelizmente, ainda ocupam no Brasil. 
 
A consciência negra deve ser o reconhecimento da realidade e a adoção de políticas sérias de emprego, de saúde e segurança no trabalho e, também, de uma educação que forme os nossos jovens de hoje para que ocupem cargos de relevância e liderança no futuro. 
 
Sofia Rodrigues do Nascimento é vice-presidente do Sinsaúde Campinas e Região, diretora de Federação dos Trabalhadores da Saúde do Estado de São Paulo e segunda secretária da Igualdade Racial na União Geral dos Trabalhadores (UGT) 
 

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