Bolsonaro volta a apoiar ato antidemocrático contra o STF e o Congresso, em Brasília

04/05/2020

 No fim da manhã deste domingo (3), o presidente Jair Bolsonaro voltou a participar de uma manifestação antidemocrática e inconstitucional em Brasília contra o STF e o Congresso.

 
Em discurso aos manifestantes, o presidente - num tom de desafio aos demais poderes - pediu a Deus para não ter problemas esta semana porque, segundo afirmou, chegou ao limite. Ele não esclareceu o que isso significa. Manifestantes hostilizaram a imprensa e agrediram com chutes e pontapés a equipe de jornalistas do jornal 'O Estado de S.Paulo'.
 
O protesto era contra o Supremo Tribunal Federal, contra o Congresso, dois pilares do sistema democrático, o que torna fora da lei pedidos para que sejam fechados. E também contra o ex-ministro Sergio Moro.
 
Uma faixa pedia o fechamento do STF. Outra dizia “intervenção militar com Bolsonaro", o que é considerado apologia contra a democracia e, portanto, ilegal e inconstitucional.
 
A manifestação começou com uma carreata na Esplanada dos Ministérios e terminou com aglomeração na Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto.
 
Bolsonaro foi até o Palácio do Planalto acompanhado da filha, Laura, e não usou máscara. Transmitiu ao vivo a participação dele em uma rede social.
 
Ao lado de Bolsonaro, estavam deputados federais, entre eles o filho, Eduardo Bolsonaro. O presidente voltou a criticar o isolamento e medidas restritivas adotadas por governos locais. Orientação que é dada pelos órgãos internacionais de saúde.
 
Tudo isso no momento em que o Brasil registra a marca de cem mil casos da doença com mais de 7 mil mortes, um número que já ultrapassou o da China e Irã. A Organização Mundial da Saúde e especialistas em saúde pública têm dito que o isolamento social pode achatar a curva de infectados, evitar o colapso do sistema de saúde e, com isso, diminuir o número de mortos. Mas Bolsonaro voltou a repetir que as mortes são inevitáveis.
 
“Sabemos hoje dos efeitos do vírus, mas infelizmente muitos serão infectados, infelizmente, muitos perderam suas vidas também, mas é uma realidade que teremos que enfrentar”, disse.
 
Sem citar diretamente a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que suspendeu a nomeação de Alexandre Ramagem para a diretoria geral da Polícia Federal, o presidente Jair Bolsonaro disse que não vai mais admitir interferências. Não explicou como.
 
“Nós queremos o melhor pro nosso país, queremos a independência verdadeira dos Três Poderes e não apenas na letra da Constituição. Não queremos isso. Interferência não vamos admitir mais interferência, acabou a paciência vamos levar esse país pra frente”.
 
A decisão do ministro Alexandre de Moraes se baseou em análise prévia de provas que indicariam que a nomeação de Ramagem representava um desvio de finalidade, com o objetivo de interferir politicamente em investigações da Polícia Federal.
 
Na manifestação, Bolsonaro disse que as Forças Armadas estão com ele e que chegou ao limite, que não tem mais conversa, sem explicitar o que isso significa e o que pretende fazer, caso haja novas decisões judiciais sobre atos seus, considerados ilegais.
 
“Vocês sabem que o povo está conosco, as Forças Armadas - ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade - também estão ao nosso lado, e Deus acima de tudo. Vamos tocar o barco. Peço a Deus que não tenhamos problemas nessa semana. Porque chegamos no limite, não tem mais conversa. Tá ok? Daqui para frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição. Ela será cumprida a qualquer preço. E ela tem dupla-mão. Não é de uma mão de um lado só não. Amanhã nomeamos novo diretor da PF”, disse.
 
 
Ao longo da manifestação, Bolsonaro interagiu com os manifestantes. Em vários momentos. Um homem e duas crianças foram autorizados a encontrar o presidente no meio da rampa. De mãos dadas com a filha, Bolsonaro acenou e caminhou de um lado para o outro. Duas grades obrigaram o presidente a manter distância dos manifestantes aglomerados em frente ao palácio.
 
Outra criança, com máscara no queixo, subiu a rampa. Bolsonaro a abraçou e pegou no colo.
 
Jornalistas que cobriam a manifestação foram hostilizados. Apoiadores de Bolsonaro gritaram ameaças e xingamentos. Um fotógrafo do jornal 'O Estado de S.Paulo' e mais dois profissionais foram agredidos com chutes e murros. Tiveram que ser escoltados pela polícia.
 
Essa agenda do presidente da República vem se repetindo nos fins de semana nesses últimos meses. Encontros de Bolsonaro com manifestantes contra Supremo, Congresso, na contramão da democracia e das autoridades sanitárias, em plena pandemia.
 
Sobre as agressões, o jornal 'O Estado de S.Paulo' divulgou a seguinte nota: “A diretoria e os jornalistas de o Estado de S. Paulo repudiam veementemente os atos de violência cometidos hoje contra sua equipe de jornalistas durante uma manifestação diante do Palácio do Planalto em apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Trata-se de uma agressão covarde contra o jornal, a imprensa e a democracia. A violência, mesmo vinda da copa e dos porões do poder, nunca nos intimidou. Apenas nos incentiva a prosseguir com as denúncias dos atos de um governo que, eleito em processo democrático, menos de um ano e meio depois dá todos os sinais de que se desvia para o arbítrio e a violência. Dada a natureza dos acontecimentos deste domingo, esperamos que a apuração penal e civil das agressões seja conduzida por agentes públicos independentes, não vinculados às autoridades federais que, pela ação e pela omissão, se acumpliciam com o processo em curso de sabotagem do regime democrático”.
 
A Associação Nacional de Jornais também divulgou nota. “A ANJ condena veementemente as agressões sofridas por jornalistas e pelo motorista do jornal 'O Estado de S.Paulo' quando cobriam os atos realizados neste domingo em Brasília. Além de atentarem de maneira covarde contra a integridade física daqueles que exerciam sua atividade profissional, os agressores atacaram frontalmente a própria liberdade de imprensa. Atentar contra o livre exercício da atividade jornalística é ferir também o direito dos cidadãos de serem livremente informados. A ANJ espera que as autoridades responsáveis identifiquem os agressores, que eles sejam levados à justiça e punidos na forma da lei”.
 
Fonte: G1

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