Reabertura econômica traz apreensão a profissionais de saúde

26/08/2020

 Trabalhadores ligados à Rede Sindical UNISaúde alertam que reabertura promovida por alguns estados põe em risco a já fragilizada atenção básica de saúde, a qual, segundo eles, não tem estrutura para atender prováveis novos casos de Covid-19 e, principalmente, pacientes com sequelas da doença.

 
A reabertura econômica que vem sendo promovida em alguns estados brasileiros tem preocupado os profissionais de saúde na linha de frente de combate à Covid-19, especialmente porque, segundo eles, a estrutura de atenção básica do país não está preparada para atender os pacientes com sequelas da doença e uma possível nova onda de infectados, como temos visto ocorrer em alguns países. Faltam insumos, remédios e profissionais capacitados para realizar tal atendimento, especialmente no interior do país, onde o número de infectados cresce mais. 
 
Até o dia 25 de agosto, o Brasil somava mais de 3,6 milhões de infectados pela doença, ultrapassava a marca dos 115 mil mortos e, segundo especialistas, caminha para a marca trágica de 200 mil mortes até outubro, números que deixam os profissionais ligados à Rede Sindical Brasileira UNISaúde bastante apreensivos.
 
O Rio de Janeiro, por exemplo, vive uma situação caótica na pandemia. Com mais de 190 mil infectados e 14 mil óbitos pela doença, o governo estadual trocou o secretário de Saúde três vezes; 5 mil trabalhadores da saúde estão com seus salários atrasados há mais de dois meses; e foi anunciado recentemente retorno às aulas na rede privada, em setembro, e na rede pública, em outubro.
 
“Estamos preocupados com a reabertura, porque muito se focou no atendimento aos pacientes graves e pouco se fala nos sequelados. Além disso, não há transparência nos números divulgados pelo governo do Estado em relação aos infectados”, pontua a enfermeira Líbia Bellusci, que é vice-presidente do Sindenf-RJ (Sindicato dos Enfermeiros do Rio de Janeiro) e trabalhadora do SAMU-RJ, e ela mesma uma sequelada da Covid-19. 
 
 
Outras localidades
 
A Bahia autorizou recentemente a abertura de atividades como bares, salões de beleza, restaurantes, entre outros. O estado tem 214 mil casos de Covid-19 com 438 mortes, segundo o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (semana de 08 a 15 de agosto).
Segundo Lúcia Duque Moliterno, enfermeira do Cerest de Camaçari (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador) e presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Bahia (SEEB), a interiorização da doença é o que mais preocupa no estado. 
 
“Temos visto uma mudança de comportamento na questão do isolamento social e a impressão que se tem é que a pandemia acabou – e nós sabemos que isso não é verdade. Se houver um aumento de infectados – e vamos torcer para que isso não aconteça -, nós não teremos estrutura para atender a todos”, observa.
 
Minas Gerais tem 171 mil casos e cerca de 4 mil óbitos por Covid-19. O estado também vive uma reabertura gradual da economia e a situação, segundo Flávia Tatiana da Silva, que é técnica de enfermagem do Hospital Baleia e diretora do Sindicato dos Empregrados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Belo Horizonte e Região (Sindees), está longe de ser tranquila.
 
“Fazemos reuniões semanais e os profissionais têm muito medo da situação. Há muito hospitais fornecendo EPIs (Equipamento de Proteção Individual) de péssima qualidade, o que fragiliza e expõe os trabalhadores ao coronavírus, tanto na atenção básica como na UTI”, diz.
 
Edna Alves, presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Jaú e Região (Sindsaude-Jaú) e técnica de enfermagem na Fundação Dr. Amaral Carvalho, no interior de São Paulo, também está preocupada com o desrespeito aos protocolos de combate à doença na região e os impactos que isso pode ter na saúde dos profissionais de saúde e no atendimento à população dos 17 municípios que englobam a entidade.
 
“Após serem curados, os profissionais voltam a trabalhar sem que sejam testados continuamente. Vemos também uma baixa no controle do isolamento social. Por isso nossa preocupação sobre como vai ser o tratamento dos doentes com sequelas e novos casos da doença”, avalia. 
 
 
Importância da CAT
 
Dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, no período de 08 a 15 de agosto, mostram que o número de casos confirmados de Covid-19 entre profissionais de saúde com Síndrome Gripal (SG) foi de 257.156, distribuídos entre 53 categorias. Já aqueles com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) com a Covid confirmada, foi de 1.034 e um total de 226 óbitos. O número total de profissionais infectados subiu em 83 mil em pouco mais de um mês. 
 
Por essa razão, a Rede Sindical Brasileira UNISaúde aponta para a importância de os trabalhadores de saúde abrirem CAT (Comunicado de Acidente de Trabalho) e frisa para que insistam nisso. Só a abertura da CAT lhes assegurará os direitos de rendimento, em caso de afastamento de salário, e a contagem para aposentadoria.
 
 
Sobre a Rede Sindical Brasileira UNISaúde:
 
A Rede Sindical Brasileira UNISaúde é composta de entidades sindicais brasileiras que atuam na área da saúde, abarcando mais de um milhão de trabalhadores ligados a várias centrais sindicais e localizadas em múltiplas estados e regiões do país, tanto das redes pública como privada. A Rede foi formada sob a égide da UNI Américas, a federação internacional de sindicatos da saúde privada nas Américas.
  
 

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